O comércio exterior brasileiro se insere cada vez mais em um cenário de competitividade global, mas ainda sofre com as limitações impostas pelo modelo de gestão dos portos. Além da ausência de uma maior autonomia das autoridades portuárias, consenso entre os agentes públicos e privados do setor, há outros obstáculos a serem superados com urgência, como os gargalos logísticos e aperfeiçoamento dos processos. Este é o balanço do Santos Export - Fórum Internacional para Expansão do Porto de Santos, evento realizado nos dias 13 e 14 de agosto, no Casa Grande Hotel, no Guarujá.
Em palestras e mesas redondas, especialistas e lideranças públicas e privadas ligadas ao porto discutiram temas como gestão portuária, agronegócio e os novos desafios do cais santista. No final do evento, uma carta pública foi lida pontuando os principais assuntos discutidos durante o fórum e uma síntese das reivindicações dos vários segmentos envolvidos na cadeia portuária.
"O Porto de Santos não pode esperar. Nesta edição do fórum ficou claro que há, por parte de todos os agentes que orbitam em torno do complexo, um clima de apreensão. É consenso que, como todos os avanços conquistados nos últimos anos, muita coisa melhorou, mas ninguém ousa dizer que já estamos preparados para o crescimento previsto para os próximos anos", mencionou um trecho do documento.
A carta destaca, principalmente, a necessidade de um modelo de gestão que amplie a capacidade e a velocidade da administração portuária em superar os obstáculos e concretizar investimos. "Convivemos com os gargalos logísticos e com uma burocracia que emperram o crescimento do nosso comércio exterior e, principalmente, precisamos de uma maior autonomia da autoridade portuária. Priorizar a qualidade do serviço prestado, a agilidade e a competitividade é fundamental para que o porto cresça de forma sustentável. Isso só será possível se houver um rompimento que nos livre das amarras impostas pelo arcabouço jurídico e indefinição sobre as atribuições", destacou o documento em outro trecho.
Além de um novo modelo de gestão, outro consenso entre os debatedores é a necessidade do aceleramento das ações que preparem o porto para o crescimento da movimentação de cargas. "O plano da segunda fase da dragagem já era para ter sido lançado. Os calados dos navios estão maiores e o complexo precisa estar preparado para recebê-los. Precisamos que a profundidade passe dos atuais 15 metros para 17 no canal externo e para 16 metros no canal interno. Assim, preparamos o porto para a nova realidade mundial de acessos portuários", afirmou o diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e ex-ministro de Portos, Pedro Brito.
Vicente do Valle, primeiro vice-presidente da Associação Comercial de Santos, chamou a atenção para o fator "preço". "Tivemos uma melhora em relação a produtividade do Porto de Santos, mas continuamos com problemas em relação ao preço. Antes da Lei dos Portos, pagávamos R$ 120 reais por contêiner para o transporte de café. Em 2004, esse valor passou para R$ 202 e, atualmente, está em R$ 605. Ao compararmos, percebemos que a China tem um valor três vezes mais barato e a Índia uma vez e meio".
Para Wagner Biasoli, presidente da Libra Terminais, a iniciativa privada precisa de uma segurança quanto a regulação. "Nós tivemos um grande avanço com o marco regulatório, mas a autonomia da autoridade portuária é um consenso. Isso está dentro do conceito privado de agilidade e confiança", disse.
O diretor de expansão da Icipar, André Ursini, seguiu na mesma linha: "Não podemos pensar em investir no porto ou na atividade retroportuária sem uma informação correta sobre os projetos e futuros investimentos. Nós que queremos investir na Baixada Santista precisamos dessa segurança para podermos planejar".
Pesquisa
Claúdio Loureiro de Souza, diretor executivo da Centronave (Centro Nacional de Navegação), apresentou, durante uma das mesas redondas, um estudo realizado pela consultoria DB International. O levantamento enumera as principais providências para reduzir os crônicos congestionamentos e os conseqüentes cancelamentos de escalas. Traz também um alerta: para evitar o colapso, ou aumentam-se significativamente esses investimentos ou se constrói um novo porto.
Entre as principais recomendações estão, no curto prazo, licitação de novas áreas alfandegadas, expansão do programa Porto 24 horas e aumento do número de fiscais; no médio e no longo prazos, a continuidade do programa de dragagens, a entrada em operação dos novos terminais de Santos (BTP e Embraport), a aceleração dos processos de licitação, a licitação de novos terminais e a implantação e expansão de acessos ferroviários, rodoviários e conexão intermodal.
Londres
Além da programação de debates e palestras, uma missão técnica formada por empresários e agentes públicos vai percorrer os principais portos de Londres, entre os dias 15 e 21 de setembro.
"O sucesso da Santos Export tem relação com estas viagens. Nas outras edições do fórum, pudemos conhecer complexos importantes na Ásia, Europa e América do Norte, que nos permitiram trazer novas ideias e fazer comparações com o desempenho do nosso porto", explica Fabrício Guimarães, diretor da Una Eventos.
Fonte: Portal Naval
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